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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A diferença entre adaptar-se e ser acolhido

A qualidade do acolhimento deve garantir a qualidade da adaptação. O nome adaptação pode sugerir apenas o esforço que a criança realiza para ficar e bem, no espaço coletivo com pessoas grandes e pequenas, todas na maioria das vezes desconhecidas, enfrentando relações, regras e limites diferentes do espaço do lar a que esta acostumada. Há de fato sempre um grande esforço por parte da criança que chega e que está conhecendo o ambiente novo, mas entendemos que o processo de conhecer e estabelecer novos vínculos depende fundamentalmente da forma como a criança é ACOLHIDA. Considerar a adaptação sobre o espaço de acolher, aconchegar, procurar oferecer bem-estar, conforto físico e emocional, amparar, amplia significativamente o papel e a responsabilidade da instituição de educação neste processo. O acolhimento deve acontecer todo dia na entrada; após uma temporada sem vir à escola; quando algum imprevisto acontece e a criança sai mais tarde; depois que as outras já saíram; após um período de doença, e enfim, sempre que o adulto julgar conveniente, porque é bom para toda criança ser bem recebida e sentir-se importante para alguém. Nós adultos também somos sensíveis ao acolhimento. Quando somos bem recebidos, em qualquer lugar, em geral nossa reação é de simpatia e abertura, o que nos leva a esperar o melhor daquele ambiente e daquelas pessoas. PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO PODEM AUXILIAR NOS PRIMEIROS DIAS DA CRIANÇA, DOS FAMILIARES, DOS PRÓPRIOS EDUCADORES E DE TODA EQUIPE ESCOLAR. Por que a adaptação é tão difícil para a criança, a família e o educador? A discussão sobre a acolhida das crianças na instituição escolar já tem história na educação de nosso país. As dificuldades enfrentadas nos primeiros dias pelas crianças ao ingressar em uma instituição, eram vistas como um mal necessário, pelo qual, todas deveriam passar. Era comum apostar que mais cedo ou mais tarde acabariam se acostumando, porque de um jeito ou de outro isso acabava acontecendo. Sofrimento, insegurança, desamparo, que para muitos adultos, a lembrança dos primeiros dias de escola faz parte com recordações pouco agradáveis. Com o passar do tempo a educação começou a considerar esse período, preocupando-se cada vez mais com os sentimentos, as emoções, a individualidade, a construção da identidade e o processo de socialização das crianças. Sendo possível amenizar consideravelmente esse impacto, por meio de um planejamento e da antecipação de problemas comuns nessa fase. Consideramos que o planejamento cuidadoso da entrada da criança na escola deve ser inerente ao projeto educativo de cada instituição, um indicador de qualidade de serviço prestado. O acolhimento pode ser enfocado de diferentes pontos: O da criança, pelo significado e emoção despertados pela passagem de um espaço seguro e conhecido para outro em que é necessário um investimento afetivo e intelectual para poder estar bem; O das famílias, que compartilham a educação da criança com a instituição; O do professor, que recebe uma criança desconhecida e ainda tem as outras do grupo para acolher; O das outras crianças, que estão chegando ou que fazem parte do grupo e precisam encarar o fato de que há mais um com quem repartir, mas também com quem somar; O da instituição, nos aspectos: organizacional e de gestão, que precisam prever espaço físico, materiais, tempo e recursos humanos capacitados para essa ação. O da equipe escolar, que precisa respeitar os comportamentos das crianças nesse período e se preparar para as previstas situações. COMO AS CRIANÇAS PODEM VIVER A ENTRADA NA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO. Para a criança, entrar na escola implica um processo ativo de construção de novos conhecimentos e de vínculos. Quando chega à instituição, ela já pode ter expectativas sobre o comportamento dos adultos, das outras crianças e até mesmo sobre a forma de se relacionar com os objetos e brinquedos, pois construiu referência a partir de suas vivências e experiências. Ela precisa de um tempo para ver com clareza as diferenças entre sua casa e a escola e para que transfira seus sentimentos básicos de confiança e segurança para alguém. Esse tempo é bastante individualizado – algumas passam por esse momento de forma mais rápida, outras mais lentas. Grande parte das crianças costuma reagir fortemente à separação de diferentes maneiras: podem chorar ou, ao contrário, ficarem muito caladas, podem agredir outras crianças, podem adoecer, recusar-se a comer, a dormir, a brincar. É preciso acolher essas manifestações e conhecer a forma de cada um reagir, considerando como natural dentro desse processo, sem rotular a criança a partir disso. Algumas crianças têm rituais específicos (costumes) e ficam apegadas a eles. Essas coisas possuem um significado especial para elas, pois criam a ilusão de que a mãe ou a pessoa na qual investem afeto estão próximas, lhes proporcionando maior conforto emocional e segurança. Deixar que a criança mantenha seu jeito de ser, seus rituais e sua rotina individualizada, para aos poucos se ajustar ao grupo, proporciona suavidade à transição, sem rupturas bruscas e maior controle do adulto sobre o processo. Conversar com a criança sobre seus sentimentos, sobre a nova rotina, esclarecendo o que vai acontecer com ela, ajudá-la a expressar seus sentimentos e a valorizá-la enquanto pessoa são cuidados que a ajudarão a desenvolver sua autonomia para lidar com as novas situações. Esse período cuidadosamente planejado promove a confiança e o conhecimento mútuos, favorecendo o estabelecimento de vínculos afetivos entre as crianças, as famílias e os educadores. Vale lembrar que o fato de ter uma pessoa familiar junto à criança na escola, caso seja preciso nesse período inicial, possibilita à família conhecer melhor o local e o educador com quem a criança vai ficar. Geralmente isso faz com que todos adquiram maior segurança. Algumas famílias acreditam que é preferível sair escondido quando deixam a criança na escola, a fim de evitar seu choro. É preferível que a criança veja e saiba que estão saindo, que expresse sua tristeza ou raiva e que seja consolada. Com o tempo, ela vai perceber que voltam todos os dias. É importante, nessa fase, que todos: pais, educadores e equipe escolar possam compreender e respeitar o momento de cada criança de conhecer o novo ambiente e estabelecer novas relações. Muita gente não gosta do termo “adaptação”. No dicionário “Aurélio”, adaptação quer dizer ajustamento, acomodação, o que é diferente das mudanças que vemos acontecer na instituição. Quem se ajusta ou se acomoda é aquele que se submete a uma situação seja boa ou ruim. A submissão é tudo o que as pessoas que trabalham com educação querem evitar. Muitos não gostam do termo “adaptar”, então cabe a todos interpretá-la de forma adequada para o atendimento de nossas crianças (ROSSETTI-FERREIRA, 2002, p. 51) Esse período deve ser considerado um momento muito especial. Assim, merece reflexão e planejamento por parte de toda a equipe. Diante disso seguem algumas situações a serem planejadas durante as primeiras semanas de aula e que conforme necessidade poderão se estender ao longo do ano. A acolhida e a despedida das crianças. A chegada ou saída dos pais, momentos em que o professor pode colher informações importante. O respeito à necessidade da criança em permanecer com um objeto que lhe dê segurança como: chupeta, fraldinha, ursinho ou outros. A atenção à ansiedade, a falta de vontade de comer ou desânimo da criança. É importante conversar com os pais sobre como era o seu ritmo/rotina em casa. Respeito às crianças que pedem a presença dos pais na escola – nesse caso é importante ver a necessidade de cada criança. A escola deve resolver essa situação da melhor forma, conversando com a criança e com seus pais. O acompanhamento das crianças nos primeiros dias durante as refeições deve ser feito direto pelo educador. Lembrando que esse pode ser assim durante todo o ano. O respeito ao tempo de alimentação das mesmas deve ser atendido. A apresentação dos espaços da escola às crianças: banheiros, bebedouros, salas de aulas, cantina e também a apresentação dos profissionais que trabalharão e acompanharão as crianças e suas funções. O acompanhamento dos alunos aos sanitários, a organização da entrada e das saídas, principalmente o cuidados com as crianças que utilizam transporte – combinar com a direção da escola sobre como será realizada. O cuidado com as atitudes de toda equipe para com as crianças (tom de voz, paciência, carinho,...). A preparação de um ambiente acolhedor, estimulador e agradável, além da sala. O cuidado para evitar o constrangimento da criança em situações como: fazer xixi na calça, derrubar comida, e a que apresentar ansiedade, nervosismo. Conhecimento do prontuário dos alunos se interando de informações importantes. “Essa fase inicial, em que a criança, família e educador estão se conhecendo, pode durar dias ou meses. Pensando melhor, sempre estarão se conhecendo. por isso se diz que a adaptação, de certa forma, nunca termina”. (Rossetti Ferreira, 2002) Referências: AZEVEDO, Heloisa Helena; SILVA, Lúcia Isabel de C. A concepção de infância e o significado da educação infantil. Espaço da Escola. Revista do Professor, n 34, p.33-40, out/dez.1999. ROSSETTI-FERREIRA. Os fazeres na educação infantil. São Paulo: Cortez, 2002.

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